Resumo do livro da parte geral do concurso para docentes da rede estadual de São Paulo (2013):
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. 20. ed., São Paulo: Cortez, 2011.
A educação está envolvida no contexto social ao qual ela
está inserida. Enquanto fenômeno histórico e social, a educação é a transmissão
de cultura, é o estabelecimento. A cultura é a relação da educação e a
sociedade, o mundo transformado pelo homem, porque o homem é um ser-no-mundo, o
mundo está dentro do homem, há uma reciprocidade, pois o homem dele se resulta.
O mundo existe para o homem na medida do conhecimento que o homem te dele e da
ação que exerce sobre ele. O mundo se apresenta ao homem num aspecto de
natureza, onde o mundo independe do homem para existir e que os próprios homens
fazem parte em seus aspectos biológicos, fisiológicos. Existe um outro aspecto
que é o da cultura, o mundo transformado pelo homem. Os homens fazem a cultura
por necessidade, por sobrevivência, para satisfazer essas necessidades eles Poe
em ação sua razão e sua criatividade. O homem é um ser de desejos colados às
necessidades. Os desejos se manifestam como fonte do humano, propulsores da
passagem do estabelecimento para o inventado. O conceito de desejo indicara a
presença da liberdade associada à necessidade.
O senso comum identifica a cultura como erudição, acúmulo de
conhecimentos, atividade intelectual. Os cientistas sociais, antropólogos,
conceituam cultura como tudo o que resulta da interferência dos homens no mundo
que os cerca e do qual fazem parte. Ela se constitui no ato pelo qual ele vai
de homo sapiens a ser humano. Assim, todos os homens são cultos, na medida em
que participa, de algum modo da criação cultura, estabelecem certas normas para
sua ação, partilham, valores e crenças. Tudo isso é resultado do trabalho. Por
isso não se fala em cultura sem falar em trabalho, intervenção intencional e
consciente dos homens rna realidade. É o trabalho que faz os homens saberem,
serem. O trabalho é a essência do homem. A idéia de trabalho não se separa da
idéia de sociedade, na medida em que é com os outros que o homem trabalha e
cria a cultura. No trabalho o homem começa a produzir a si mesmo, os objetos e
as condições de que precisa para existir. A primeira coisa que o homem produz é
o mundo, mas o mundo tornado humano pela presença do homem e pela organização
social que, pelo trabalho, lhe impõe.
Qualquer sociedade se organiza como base na produção da vida
material de seus membros e das relações decorrentes. A cultura precisa ser
preservada e transmitida exatamente porque não está incorporada ao patrimônio
natural. A educação, no sentido amplo, está definida como processo de
transmissão de cultura, está presente em todas as instituições, ou seja,
escolas. Escola é o espaço de transmissão sistemática do saber historicamente
acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar indivíduos, capacitando-os a
participar como agentes na construção dessa sociedade.
A sociedade capitalista se caracteriza por ter sua
organização sustentada numa contradição básica –aquela que se dá entre capital
e trabalho - e que provoca a divisão de seus membros em duas classes
antagônicas, a classe burguesa e a trabalhadora. Na sociedade capitalista, a
escola, enquanto instituição, tem sido o espaço de inserção dos sujeitos nos
valores e crenças da classe dominante. A ideologia liberal é o elemento de
sustentação do sistema capitalista, este conjunto de idéias, crenças, valores,
ganha corpo e solidifica, dissimulando a realidade por interesses da classe
dominante. Assim, as diferenças sociais, as discriminações, são justificadas
com base em princípios considerados um contexto histórico especifico. Isso é
evidente na escola brasileira. Ela é transmissora do saber sistematizado
acumulado historicamente, mas deveria ser fonte de apropriação da herança
social pelos que estão no seu interior. Entretanto, a população está excluída
do processo educativo formal, a maioria que freqüenta a escola está não tem oferecido
condições para aquela apropriação. A relação escola-sociedade, a escola é parte
da sociedade e tem com o todo uma relação dialética, uma interferência
recíproca e social. E contraditória, pois é um fator de manutenção e que
transforma a cultura. Ela tem um conjunto de práticas que mantêm e transforma a
estrutura social.
A ação dos homens em sociedade é uma ação de caráter
político, que onde o poder é um elemento presente como constituinte do social.
A idéia de política esta associada ao poder, e a medida a organização da vida
material determina a organização das idéias e relações de poder. Não há vida
social que não seja política, pois se toma partido, de situações, não ficar
indiferente em face das alternativas sociais, participar e produzir em relação
com toda a vida civil e social, é ter um conjunto de intenções como programa de
ação.
É preciso refletir sobre os objetivos específicos da
educação, para distinguirmos da prática política, mas vemos esta pratica, na
ação educativa.
A função da educação tem uma dimensão técnica e política. O
pedagogo realiza a dimensão política na prática educativa, preparando o cidadão
para a vida na polis, transmitindo saber acumulado e levando a novos saberes;
tecnicamente significa dizer, que a criação de conteúdos e técnicas que possam
garantir a apreensão do saber pelos sujeitos e a atuação no sentido da
descoberta e da invenção. Conteúdos e técnicas são selecionados, transmitidos e
transformados em função de determinados interesses existentes na sociedade. O
papel político da educação se revela na medida em que se cumpre as perspectiva
de determinado interesse, está sempre servindo as forças que lutam para
perpetuar e / ou transformar a sociedade. A escola da sociedade capitalista não
tem caráter democrático, socializando o saber e recurso para apreendê-lo e
transformá-lo, porque ela tem estado a serviço da classe dominante, veiculando
a ideologia dessa classe. A escola quer formar o cidadão dócil e o operário. É
necessário refletir e encontrar caminhos para sua transformação.
Os papeis sociais do educado são definidos levando-se em
consideração as instituições onde esse desenvolve a prática dos sujeitos. O
educador desenvolve sua prática no espaço da instituição que é a escola. É
tarefa da escola a transmissão / criação sistematizada da cultura entendida
como resultado da intervenção dos homens na realidade transformando-a e
transformando a si mesmos. A escola tem características específicas e cumpre
uma função determinada que resulta do trabalho e das relações estabelecidas em
seu interior e na prática desses sujeitos. O educador exerce sua função tem que
realizar suas obrigações e uma maneira especifica usando-se de competência,
saber fazer bem, técnica e politicamente. Isto na prática significa, ter
domínio no saber escolar, habilidade de organizar e transmitir esse saber,
organizar os períodos de aula, desde o momento da matrícula, agrupamento de
classes, currículo, e métodos de ensino, saber relacionar o preparo técnico da
escola e os resultados de sua ação, e compreender a relação escola e sociedade.
O sentido político da prática docente se realiza pela
mediação da competência técnica. Fazer bem é ir de encontro daquilo que é
desejável, está vinculado às aspectos técnicos e políticos da atuação do
educador. A ética é a mediação, pois defini a organização do saber que será
vinculado na instituição escolas e na direção que será dada a esse saber na
sociedade. A qualidade da educação tem sido prejudicada por educadores
preocupados em fazer o bem, sem questionar criticamente sua ação. O maior
problema que se enfrenta no que diz respeito as dimensões técnica e política da
competência do educador, é a desarticulação na realidade. O saber fazer técnico
constitui condições necessária porque é a base do querer político, ainda que a
dimensão política da tarefa docente não seja percebida como tal.
Com respeito à relação existente dentre moral e política, se
percebe que os educadores não têm clareza da dimensão política de seu trabalho.
Ao interpretarem política como envolvimento partidário, ou mesmo sindical,
alguns até negam que tenham algo a ver com isso. Não podem se recusar a admitir
a presença da moralidade em sua ação. Essa moralidade aparece de forma
extremada – o moralismo.
A idéia de responsabilidade que se encontra articulada com a
de liberdade, conceito que representa o eixo central da reflexão ética está
ligada à noção de compromisso político e moral. Os professores não têm clareza
quanto a implicação política de seu comprometimento, vêem como parte de uma
essência do educador. As mulheres educadoras dão-se ênfase a afetividade. Ao
desconhecimento na presença político na ação educativa e ético, aparece
misturado com o sentimento e essa mistura contribui para reforçar o
espontaneismo e para manter as falhas da instituição escolar.
É necessário evitar o moralismo, mas não é possível
desvincular moral e política, buscar discutir os valores morais dominantes na
sociedade. A ética da competência pode ajudar-nos a desvelar elementos da
ideologia que permeia nossa educação. Não há como afastar a subjetividade que
está presente na valorização, na intencionalidade que se confere a prática
social.
É preciso distinguir subjetividade de singularidade ou
individualidade. O singular é o que diz respeito ao individuo, as pessoas de sua
atuação que o distinguem dos demais e é na vida em sociedade que ele adquire
essa individualidade.
O comportamento do homem é político enquanto razão e
palavra. E a moralidade são as escolhas exigências de caráter social no que se
chama de técnico no ensino, no trabalho educativo. Essas escolhas têm
implicações ético-política. Vontade, liberdade, conseqüência são conceitos do
terreno ético político. A articulação entre esses conceitos é que nos auxilia
na busca da compreensão da com potência do educador, pois não basta levar em
conta o saber, mas é preciso querer. O saber e a vontade nada valem sem a
explicitação do dever e a presença do pocer desvinculado da dominação. Mas no
poder na conjugação de possibilidades e limites representando pelas normas que regem
a prática dos homens em sociedade. Deveres que se combinam com direitos e estão
ligados à consciência e a vontade dos sujeitos.
Ao lado do saber que se identifica com o domínio dos
conteúdos e das técnicas para a transmissão temos o saber que sabe, a
consciência de percepção da realidade crítica e reflexiva.
A visão crítica é um primeiro passo a ter um compromisso
político. Depois a vontade e a intencionalidade do gesto do educador.
A necessidade presente no contexto socioeconômico é o
primeiro motor de ação do educador, a vontade de articular a consciência é
essencial a prática político moral do educador a liberdade responsável. O
educador deve associar a coletividade rompendo com a idéia dominante do
pensamento burguês que é a de individualismo.
A idéia de promessa dá-se a noção de compromisso, o empenho
da prática e envolvimento com a realização do prometido. Na maioria das
situações é preciso criar essas circunstâncias. O gesto de compreensão e a
ética no envolvimento com aquilo que se tem por objetivo. Compreensão é saber
aprofundado e envolvimento ético-politico do saber.
É preciso que o educador competente seja um educador
comprometido com a construção de uma sociedade justa, democrática interferindo
no real e na organização de relações de solidariedade e não de dominação entre
os homens.
A escola deve ser um espaço de predominância do consenso e
da persuasão. Onde o consenso resultaria de aproveitar o espaço existente na
sociedade civil para seu fortalecimento e para a transformação necessária na
estrutura social.
A dimensão técnica carrega a ética, onde a ética é a
mediação da técnica e da política expressando a escolha técnica e política dos
conteúdos, dos métodos, dos sistemas de avaliação e os desvendando-os.
Técnica, ética, política são referências que devemos
descobrir na nossa vivência real em nossa prática. É a reflexão que transforma
o processo social educativo em busca de uma significação mais profunda para a
vida e o para o trabalho.
O educador competente terá de ser exigente, sua formação
deverá ser a formação de um intelectual atuante no processo de transformação de
um sistema autoritário e repressivo: o rigor será uma exigência para sua
prática. O educador se contribuirá da filosofia para a educação e reflexão
crítica a busca de sua compreensão.
A visão do professor e de educação é de mediar a ação
mediadora. A relação professor-aluno. Educador-educando, é a aquisição do
conhecimento, onde ambos são sujeitos conhecedores. O professor estabelece o
diálogo do aluno como o real. O objeto que é o mundo é apreendido, compreendido
e alterado, numa relação que é fundamental – a relação aluno-mundo. O professor
é quem especifica a mediação do saber entre o aluno e a cultura e a realidade.
Há fatores intra e extra-escolares que interferem na prática
dos educadores. É no cotidiano de nossas práticas que estamos construindo a
educação, que estamos fazendo a história da educação brasileira. E é o educador
que vai encaminhar o educador que queremos ter. O desafio está na necessidade
de se superarem os problemas e se encontrarem / criarem recursos para a
transformação. Isso se concretiza na elaboração de projetos de ação.
Ao organizar projetos, planejamos o trabalho que temos a
intenção de realizar, lançamos-nos para diante, olhamos para frente, projetar é
relacionar-se com o futuro, é começar a fazê-lo. O presente traz no seu bojo o
passado, enquanto vida incorporada e memória. É isso que garante a significação
do processo histórico. Começamos a escola do futuro no presente. Quando se
projeta, tem-se que em mente um ideal. O ideal é utópico, mas é preciso
recuperar o sentido autentico de utopia, que é algo ainda não realizado.
A escola deve desenvolver um trabalho coletivo e
participante, tendo como pressuposto que o trabalho que se realiza com a
participação responsável de cada um dos sujeitos envolvidos é o que atende de
forma mais efetiva as necessidades concretas da sociedade em que vivemos. É
preciso que ele seja possível . O que ainda não é pode vir a ser. O possível
ainda não está pronto, deve ser construído.
A idéia de projeto e a de utopia está ligada à idéia de
esperança, movimento, que é alimentada pela ação do homem. A organização de
projetos utópicos é uma forma de se enfrentar as crises.
A história se faz na contraposição de valores, na descoberta
e instituição de novas significações para as ações e relações humanas. Mas a
crise pode configurar-se como uma ruptura, uma negação de a própria dinâmica da
cultura, uma ameaça de imobilidade, sob a forma de um suposto movimento de
desordem.
Cada momento histórico apresenta aos homens um desafio. A
crise ética em nossa sociedade contemporânea é o grande desafio da competência.
A crise moral é o desafio a ética, porque significa uma indiferença diante de
valores.
A atitude cínica nos provoca na medida em que é uma atitude
de desconsideração das normas e dos valores que as sustentam.
Na ação competente, haverá sempre um componente utópico no
dever, no compromisso, na responsabilidade. A competência é construída
cotidianamente e se propõe como um ideal a ser alcançado, ela é também
compartilhada, por outras pessoas, a qualidade de seu trabalho não depende só
de uma pessoa. A competência do profissional e na articulação dessa competência
com os outros e com as circunstâncias.
Na direção do bem comum, da ampliação do poder de todos como
condição de participação na construção coletiva da sociedade e da histórica,
apresenta-se ao educador, como profissional, em meio a crise,. A necessidade de
responder ao desafio. Ele o fará tanto mais competentemente quanto mais garantir
em seu trabalho, no entre cruzamento das dimensões que o constituem. A dimensão
utópica. Esperança a caminho.
O que é a educação senão a oportunidade do ser, ter, num contexto literário, a chance de se transformar através da construção do conhecimento. Construção que será o esteio fundamental para seu crescimento individual.
ResponderExcluirÓtimo resumo!!! Muito claro!!!!
ResponderExcluirMuito bom a autora usa uma linguagem muito tecnica mas as suas idéias explicam a atual crise existencial que presenciamos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigada pela ajuda!
ResponderExcluirEstou fazendo uma resenha critica,com o resumo etica e competencia e ja estou encantada.
ResponderExcluirGostaria de saber se é resumo? Ou seja, os trechos são do livro ou você parafraseou?
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